sábado, 24 de janeiro de 2009

A RECESSÃO


FOCUS 483

Depois de uma entrevista em que, mais uma vez, José Sócrates resistiu a tudo, mostrando um profissionalismo indestrutível e uma firmeza que, sobretudo quando se exerce sobre si próprio, sob a forma de auto-disciplina, não falha, o Banco de Portugal declarou que o país entrou em recessão ( ainda assim, foi dos últimos países europeus a entrar) e reviu em baixa a previsão de crescimento para 2009. Anunciou também que uma ligeira e insuficiente recuperação podia começar em 2010 (estagnação em vez de recessão). 

Não vale a pena levar muito em conta os números adiantados, porque estão a ser permanentemente desmentidos por aqueles que os adiantaram. Como dissemos aqui há já alguns meses, os economistas parecem baratas tontas e não vale a pena esperar outra coisa deles, nos tempos mais próximos, do que balbucios numéricos e previsões erradas. De tal forma isto assim é, que o Orçamento do Estado para 2009 terá de ficar sujeito a uma espécie de rectificação permanente. E ninguém nos garante que da recessão não se passe para a depressão.
Perante este anúncio tão técnico de recessão (há recessão quando o PIB cai durante dois trimestres consecutivos), muitos portugueses ficaram confundidos e não sabem muito bem o que esperar. Basta no dia seguinte ter ouvido as conversas de rua, cafés e transportes públicos para se perceber que tudo ainda se passa nos écrans de televisão. Por isso, é bom que se esclareça que a recessão significa aumento de quase tudo o que é mau e diminuição de quase tudo o que é bom. Significa crescimento negativo de economia (isto é, decréscimo de criação de riqueza), diminuição dos índices de confiança, pobreza, aumento do desemprego, diminuição do consumo. Significa, a curto e médio prazo, mais falências de empresas, menos criação de emprego, redução da actividade económica, diminuição das exportações, aumento da dívida, diminuição do crédito. Quer dizer que a crise começa a chegar, por vezes dramaticamente, à economia real, à vida das pessoas, às casas das famílias. É para isso que todos devemos estar preparados. 

Na entrevista que deu, o primeiro-ministro quis, em nome do governo, mostrar que está a agir para enfrentar a crise e limitar os seus efeitos negativos. Apresentou algumas medidas, importantes mas circunscritas. Falta demonstrar ainda que tem uma estratégia política global, declinada em todos os aspectos políticos, sociais, económicos e financeiros, e baseada já num novo paradigma.

Mal se soube da recessão, Manuela Ferreira Leite, para não ser mais uma vez acusada de estar fora de jogo, saltou a pedir um debate televisivo com o primeiro-ministro. É claro que Sócrates não hesitou um minuto. Mandou logo responder que nem pensar, que debate com a oposição era no Parlamento, onde a velha senhora não está porque na altura das listas estava mais interessada em trabalhar em bancos do que em fazer política. Por uma vez, os mais influentes e mesmo hostis analistas e comentadores políticos vieram dar razão a Sócrates. A proposta de Manuela não tem sentido nenhum e só um primeiro-ministro parvo, ingénuo ou incompetente se prestaria a fazer um frete destes ao seu adversário. Resultado: Manuela não obteve o que pediu, nem sequer ganhou capital de queixa por o não ter obtido. 

A conclusão a tirar é que, com descidas constantes nas sondagens e sem acertar uma há sucessivos trimestres, não é só o país que está em recessão económica - também o PSD está em recessão política. E tão grave é uma como a outra.

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