segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O CASO FERREIRA LEITE



Mais uma vez, a incapacidade total de Manuela Ferreira Leite para se afirmar sequer como líder, quanto mais como alternativa ao primeiro-ministro, voltou a ocupar as notícias e aqueles que as comentam assiduamente. Para isso, bastaram as sondagens que dão descidas sucessivas ao PSD e uma frase sensata e assassina de Marcelo Rebelo de Sousa na sua análise semanal da RTP. É claro que quem anda na rua sabe que as sondagens não mentem, por muito que custe à actual direcção do PSD que veio, num tradicional gesto de desespero, levantar suspeitas sobre a sua credibilidade. E a mobilização das “estruturas” contra o “pérfido" Marcelo só prova o estado de desespero em que os dirigentes e militantes laranjas vivem.

O espanto que se apoderou de toda a gente por esta nova descida foi motivado porque havia a convicção geral de que o PSD aproveitaria, coisa pouca que fosse!, com o desgaste provocado pelo “caso Freeport” ao primeiro-ministro, ao governo e ao PS. Mas a verdade é que não aproveitou: muito pelo contrário! E não aproveitou porque Manuela Ferreira Leite não “passa”: não convence, não entusiasma, não seduz, não mobiliza, não se impõe. É isso mesmo o que as sondagens mostram quando dizem que o seu índice pessoal de impopularidade é enorme e que a sua imagem é a mais negativa de todos os líderes partidários. 

De facto, a actual líder do PSD é, pela negativa, um “caso” (é mesmo um “case study”), carecendo de todas as qualidades políticas e capacidades de comunicação de que o país e o PSD precisavam nesta hora. Tem uma estratégia imperceptível, uma imagem má, um discurso sem impacto, propostas fragmentárias, falta de timing, ausência de convicção. Agora, além do mais, hesita entre “ceder” ao marketing ou continuar “arcaica” como é. Resultado: não é carne nem é peixe. Os seus adversários (soft ou hard), aproveitando ou prevenindo esta nova demonstração da sua fragilidade, atacaram-na. E, desta vez, já não foi apenas o violento Luís Filipe Meneses. Até apareceu a criticá-la o suave Pedro Passos Coelho, que, numa estratégia inteiramente compreensível, a vinha poupando – mas compreendeu que, continuar a poupá-la, o podia tornar cúmplice do desastre, responsabilizando-o também por ele.

Todos estes sinais significam que o PSD está a estrebuchar. E irá, nos próximos tempos, agitar-se e dividir-se entre aqueles que acham que não há nada a fazer, senão aguentar a actual situação até às eleições e depois logo se verá, e aqueles que pensam que ainda é possível mudar, antes, de líder para evitar a catástrofe a que com Ferreira Leite o partido está condenado. Só que esta instabilidade e turbulência ainda vai afectar mais a coesão interna e contribuir para acentuar uma imagem negativa de incapacidade e impotência.

Tudo isto é muito mau para o sistema político. A democracia precisa de alternativas convincentes que melhorem os governos e, se isso não acontecer, possam suceder-lhes. Assim, é o regime que perde, aumentando ainda mais o risco de abstenção, de afastamento e de bloqueio. A necessidade de alternativas sólidas é válida em qualquer situação. Mas ainda se torna muito mais verdadeira e mesmo imperiosa num momento de grave crise económica e social, com graves efeitos cuja dimensão ninguém se atreve a prever.

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