terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

OS PRIMEIROS DIAS DE OBAMA


FOCUS 486

Ao contrário do que previam, com mal disfarçada alegria, os seus adversários e, ainda talvez mais do que esses, os cínicos de todos os tipos e inspirações, os primeiros dias de Barack Obama na Casa Branca não têm sido nem uma desilusão, nem um desmentido do que ele tinha prometido durante a sua campanha eleitoral. Pelo contrário, vêm sendo uma reiteração do seu carácter, da sua vontade, das suas convicções e das suas afirmações de ruptura com um passado recente catastrófico. Logo no discurso de posse, com sobriedade e clareza, o primeiro Presidente negro da História dos Estados Unidos da América proclamou a sua nova visão do mundo e os seus valores, princípios e objectivos de acção política. Desde então, com uma força tranquila e uma coragem serena, todos os dias tem falado e agido, destruindo o desastroso edifício doutrinário que tinha sido construído por George W. Bush e pelos seus ideólogos. Em sua substituição, começou a erguer um novo edifício assente nos alicerces do humanismo –daquele humanismo libertador e justo que inspirou a fundação da América e que se encontra consagrado na Declaração da Independência, na Constituição e no Bill of Rights.

Dia-a dia, o novo Presidente vem mudando, quer em matéria de política interna, quer no plano da política externa, as concepções neo-liberais e belicistas que conduziram ao desastre em que estamos mergulhados e à crise que ainda agora a insuspeita (de esquerdismo) Cimeira de Davos classificou de gravíssima, acrescentando que o ano de 2009 será o pior dos últimos sessenta anos (isto é, o pior desde o fim da Segunda Guerra Mundial). Barack Obama vem assim fazendo o que tinha prometido, revigorando uma exigência moral, sem a qual a política se desacredita, não passando de uma mera arte de conquistar e manter o poder custe o que custar.

Como exemplo desse rigor ético que vem marcando a sua acção, o Presidente não hesitou em falar de forma clara e dura aos banqueiros que, com um despudor e uma vertigem semelhante à de alguns nobres na véspera e mesmo já em plena Revolução Francesa, resolveram atribuir-se chorudos prémios em bancos falidos que só não fecharam as portas porque o Estado injectou neles o dinheiro dos contribuintes para tentar evitar o caos. Disse-lhes Obama que eles não tinham vergonha, nem senso, e acusou-os de irresponsabilidade. Para se perceber, de facto, até aonde vai essa irresponsabilidade, basta lembrar que os gestores de um desses bancos falidos tinham decidido comprar um novo jacto privado. E o facto de os republicanos (e mesmo alguns democratas) da Câmara dos Representantes estarem a tentar impedir o plano presidencial de relançamento económico só mostra que as coisas estão mesmo a mudar e que eles não esqueceram nem aprenderam nada...

No plano externo, Obama anunciou logo, como prometera, o fecho de Guantánamo, decisão de imenso simbolismo e consequência. Depois, ao dizer ao seu enviado pessoal ao Médio Oriente, George Mitchell, que o mandava à região para ouvir e não, como no passado recente, para dar ordens, isso representa uma autêntica revolução da imagem e do papel que os Estados Unidos a partir de agora se atribuem no mundo. O sempre adaptável e oportunista Tony Blair, o grande amigo e aliado de Bush, já percebeu que os ventos mudaram. Por isso, apressou-se a proclamar, enfaticamente, que o Hamas tem de ser incorporado na processo de paz e que Gaza não pode ser dele separado. Só falta ouvirmos o outro grande amigo e anfitrião de Bush, José Manuel Durão Barroso, dizer coisas parecidas, ou ainda mais “progressistas”...

É claro que Obama não é um santo milagreiro, nem tem uma varinha mágica para resolver os terríveis problemas económicos e sociais da América e do mundo. Mas, num momento de inédita gravidade e de enorme complexidade, a sua convicção e a sua coragem são um fundamento de esperança.

Um grande fundamento de esperança! Um dos poucos fundamentos de esperança e de confiança na nossa capacidade para ultrapassarmos a crise e construirmos um futuro melhor!

Sem comentários:

Enviar um comentário